sexta-feira, 23 de julho de 2010

Uma semana no Araguaia

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Acho que estou ficando velha. Ou melhor, madura.

Minha rotina nos últimos 7 dias.

SDC114136h da manhã – Acordar, tomar café, só com frutas e suco, coisa leve, para não atrapalhar o resto do dia. Entrego menino para a babá e sigo à procura da nécessaire, onde estão, entre os cremes antiidade e hidratante, filtro solar diferente para o corpo (fator 60) e para o rosto (fator 100, oil free). 15 minutos para distribuir tudo pelo corpo, nas áreas específicas. Vestir o maiô, uma canga, óculos escuros e chapéu de aba larga. Chego à margem do rio Araguaia, aguardando os outros companheiros (pai, às vezes, o filho, tios, primos) para entrar no barco e não perder o horário bom da ceva de pacu e piau. Vara de pescar em punho, assisto ao nascer do sol, com as águas do Araguaia borrifando o rosto e a prosa alegre sobre tempo, família, nostalgia e diversão.

(Esta parte merece um parênteses. Não gostava de pescar. Acampamentos no Araguaia são tradição de família eu só fui uma vez, saindo de lá sem pescar nada e meio aborrecida por estar num programa tão sem graça. Adolescência é foda. Costumo dizer que não pesco nem em pesque-pague. Não digo mais. Achava que quando a gente aprende a pescar e fazer crochê, só nos resta a aposentadoria e os netos. Também já não penso mais. Engraçado como a vida é uma eterna quebra de paradigmas, não é?)

SDC11458 10h30 – volta para o acampamento, reúne todo mundo, crianças, adolescentes, adultos e vamos para uma parte bem rasa no meio do rio, tratar os peixes capturados na noite anterior e pela manhã. Depois de divididas as tarefas de descamar, abrir e eviscerar os bichos, vemos as gaivotas cada vez mais próximas a comer os restos que descem as águas, é hora de “banhar”. Nisto, se junta a meninada, que vai da faixa de seus 4 à 10 anos, a pular e dar cambalhotas do barco para o rio, enquanto os adultos mergulhados até o queixo, aproveitam o calor do meio dia para uma última cerveja antes do almoço.

SDC11529 12h – voltam todos ao acampamento para almoçar as iguarias preparadas pela cozinheira que reveza peixe, frango e carne bovina como prato principal, para não enjoar. Posso dizer que estou bem abastecida de Ômega 3. À mesa, mais confraternização da família, mais risadas, mais histórias e causos contados pelos mais velhos. Depois, sesta onde todos se deitavam na varanda montada quase dentro do rio, vendo o paisagem e curtindo o vento fresco até dormir. Cochilo que acabava por volta das 16h.

SDC1138816h – Depois da sesta, hora de arrumar o barco (caixa de isopor com muito gelo,  garrafas d'água, refrigerante e latas de cerveja), arrumar a tralha e voltar ao rio para pegar as iscas da pescaria noturna, de peixes maiores. De volta ao rio, pescar pacus e piaus, boas iscas para surubins.

SDC11407 17h30 – volta ao acampamento para pegar o rádio(segundo o primo Deró, os surubins chegam mais ouvindo A Voz do Brasil), trocar as varas pequenas pelas grandes com linhas de maior calibre e ir para os pesqueiros de surubim e outros peixes maiores, de couro, que perambulam pelo rio durante a noite. Pescaria noturna não é para crianças, que vão pescar só nos horários que o sol não é muito forte. No nosso acampamento, crianças leitoras.

20h30 – Volta ao acampamento, hora de tomar banho, arrumar a barraca para dormir, ouvir rádio (nosso único contato com o mundo, já que na ilha, no meio do Araguaia, não há sinal de celular ou TV, apesar de o acampamento ter motor de energia elétrica, tudo era feito na base do recado), ouvir música, bater papo, jogar baralho, ou simplesmente dormir para começar tudo de novo no outro dia.

Nota 1: Pesquei piau e pacu (os peixes mais fáceis de pegar, os preferidos das crianças), sardinhas (os mais divertidos – elas vêem em cardumes e fazem um alvoroço quando jogamos o “chama”, a quirela de milho, e a superfície da água borbulha com a presença das “bichinhas”) e surubim (mais emocionante, pesca noturna, peixe grande!)

Nota 2: Não é preciso ir ao Tibete para se encontrar. Em qualquer viagem, com disposição para aprender, voltamos mais sábios. Volto do Araguaia com mais conhecimento: a pesca e a importância da família, de preservar algumas boas e válidas tradições. Mais madura. E feliz com isto.

4 comentários:

Lanna disse...

É mesmo um paraíso o acampamento no Araguaia, as histórias que por lá rolam então nem se fala! Pena que esse ano provavelmente não terei como ir nem um fds, mas espero mudar isso ano que vem!

Nita Nascimento disse...

Por isso a importância de estar sempre disposto a aprender e captar o melhor de cada situação. Não perdemos nada com isso, e às vezes até ganhamos. Gosto muito dos seus textos.

Lívia Neiva disse...

também adoro seus textos.
não gosto muito do araguaia, nem de pescar. em todos os anos de namoro, quis ir no rio apenas duas vezes e cheia de preconceitos. (ainda mais qdo estamos com o povo do marido...hehehhe) mas lendo seu relato estou pensando que um dia posso ir e enxergar as coisas sob uma nova perspectiva. assim como você fez, afinal, vc diz em madureza, eu digo, que é pra pagar lingua mesmo. ahahahhaa

Margareth disse...

Rafaela, sabe do que mais gosto em seus textos? A forma como você aceita as mudanças e modificações que vão ocorrendo na vida. Você sabe que também sou meio assim, achando que "nada é diferente daquilo que deve ser" (lembra-se de meu pai falando isso?). A vida fica mais fácil, assim, não é mesmo? bjos p vc e Ian.