sexta-feira, 18 de maio de 2012

Mulheres independentes assustam


Digitei a frase acima e em 0,18 segundos o Google me deu aproximadamente 118.000 resultados dizendo: sim, mulheres inteligentes ainda assustam os homens.

Daí, me deu uma vontade enorme de escrever este post, fazendo uso de um outro post de um blog recém adotado como favorito, que me foi apresentado pela Glês Nascimento, numa tarde estressante de trabalho pós-dia-das-mães.

O Blog recém favorito é o "Batida Salve Todos", escrito (e muito bem escrito!) por Téta Barbosa.

O texto que me deu uma vontade imensa de ter escrito foi: Sobre Mulheres Inteligentes. Texto que me fez ir ao Google fazer a pergunta que parece fútil e que dá nome a este post.

Obs.: Sou mãe solteira. Isto faz de mim, automaticamente, uma mulher MultiTask

Dada esta introdução, vamos ao lindo texto de Téta (sim, já estou íntima).

Sobre Mulheres Inteligentes

Mulheres inteligentes são assim: MultiTask.

Porque ser inteligente não é de todo difícil. Mas quero ver ser inteligente, levar o menino pro dentista, pegar o carro na oficina, lembrar do aniversário da sogra, comprar o corretivo certo para seu tom de pele, saber que soutien com alça de silicone não se usa (nem sob tortura) e ainda almoçar salada usando aquela calcinha que está te apertando mas que, se tudo der certo, vai fazer o maior sucesso logo mais a noite.
Então, minha admiração por mulheres inteligentes que são lindas, descoladas,  têm doutorado e ainda sabem a diferença entre pó compacto e iluminador, só aumenta.

Vamos aos fatos:

Bruna Caputo – advogada concursada. Concursada, repito.Voltando de Garanhuns (onde trabalha) para Recife, deu um duplo mortal carpado com o carro. Leia-se: capotou várias vezes porque um cachorro atravessou a BR . Quando aterrizou ela pensou: bem que a moça da concessionária avisou que esse carro tem tecnologia de fórmula 1 (seja lá o que isso signifique). Na seqüência, o alívio: meu shiseido está intacto, ufa.

*Se você é homem, inteligente e concursado e mesmo assim não sabe o que é shiseido, acabo de provar minha teoria: mulheres são phoda.

Fabiana Moraes – melhor jornalista em linha reta do Norte/Nordeste (incluindo a Bahia). Tem mais prêmio do que bingo de quermesse. Por esses dias postou uma matéria escrita por ela. O título da matéria: Os limites da infodiversão – resgate do jornalismo impresso, televisivo ou online e sua relação com o entretenimento. O título da postagem: “é tudo mentira, eu só penso em rímel.”
Porque ser inteligente é fácil, quero ver ser inteligente e usar rímel à prova d’água ao mesmo tempo.
Futilidades, diriam os espertos.

Concordamos. Deixemos eles preocupados com as coisas importantes desta vida: peladas (do futebol e do canal para adultos).

A gente se preocupa com o resto.

*Mas se a gente tivesse uma ajudinha, ia ser massa. Fica a dica.



Acordei tão feminista hoje. Por isso, se quiser abrir a porta para eu passar ou pagar a conta do jantar, fique à vontade.

sábado, 10 de março de 2012

A transição entre o amor romântico e o amor autônomo*

Eu gostaria de estar presente no mundo daqui duas ou três gerações. Gostaria de ver, com o distanciamento necessário para uma boa avaliação, a época de transformação que vivemos. Não digo exatamente em tecnologia, mas nas relações sociais, mais especificamente, nas relações entre homens e mulheres.

Costumo dizer que estamos no olho do furacão, em plena fase de transição de uma modificação de padrões e valores no que diz respeito ao que é a condição feminina e masculina. Não é novidade e nem é ideia minha, especialistas como o falecido psiquiatra José Angelo Gaiarça e a sexóloga Regina Navarro já falam disto há anos. Mas o fato é que esta transição tem afetado diretamente os relacionamentos, onde homens e mulheres se perdem entre as convenções culturais e a liberdade latente de escolhas que os novos meios de comunicação e a difusão de culturas nos colocam à disposição.

Primeira barreira a ser rompida está no encontro da autonomia pessoal, da quebra do paradigma do amor romântico, em que nossa felicidade está ligada única e exclusivamente ao encontro do outro, ao nosso complementar, à alma gêmea. Nossa cultura ainda insiste, através da propaganda, do cinema e da literatura, a pregar que o ser humano só será completo junto com o outro. Não sou contra este encontro, o que mais me assombra é o vínculo de que desta relação, geralmente submissa, onde se abre mão de sonhos e características pessoais em prol de uma ilusão de "amor perfeito".

Cada vez mais os limites do que é feminino e masculino se tornam mais tênues e mais depressa começamos a ver que homens e mulheres podem ser ao mesmo tempo fortes e fracos, independentes e dependentes, amáveis e brutos, independente do sexo em que nasceram e do que a cultura os impôs, sendo cada dia melhor descritos apenas como humanos.

Há dois anos, escrevi para um blog, como colaboradora, sobre o nascimento da mulher má e do homem cafajeste, frutos de uma cultura em que de um relacionamento desfeito tudo o que pode sobrar é mágoa e rancor. Não se encaixar no que ditam as comédias românticas água com açúcar gera uma desilusão (veja desILUSÃO - algo fictício) tão grande que, ao terminar um relacionamento, o que sobra a homens e mulheres é descontar no próximo relacionamento toda esta frustração, tomados de uma amargura vingativa, ao invés de simplesmente aprender, como acontece em todas as outras áreas de nossas vidas.

Uma amiga uma vez me disse que gostaria que sua vida amorosa fosse tão simples como a sua vida profissional. Mas nem ela se dava conta que não queria isto, pois na carreira, é objetiva, tem dimensão do que quer, de suas habilidades e, caso fosse demitida, não gerava expectativas vãs, se aperfeiçoa e voltava ao mercado de trabalho, fortalecida. Enquanto num relacionamento, gerava uma expectativa de comédia romântica, onde tudo é aventura e fantasia, onde o homem certo chegará para resgatá-la de uma vida tediosa e solitária. Jogamos sobre o outro toda responsabilidade de tornar nossas vidas mais coloridas e interessantes, enquanto não fazemos isto por nós mesmos.

Passados os dois anos que escrevi o post, fui relê-lo. Lá eu dizia que, depois de um relacionamento caótico, poderia surgir uma mulher má ou uma mulher mais madura. O que diferencia a mulher que cresceu da mulher má é que uma continua tendo fé na humanidade, enquanto a outra, propositalmente, acha que o mundo, ou melhor, os homens, são todos maus. Elas querem ser cínicas. Elas acreditam, com fé, que os homens merecem ser maltratados. Estas mulheres estão dispostas a torear, a entrar no ciclo da competição, da guerra dos sexos.

Agora, a mulher que cresceu, aprendeu. Não só sobre relacionamentos, mas sobre si mesma. Do que é capaz, do que gosta, do que não gosta. Não acredito que isto seja se tornar mais "fria", "menos feminina". Acho que isto é se tornar mais consciente.

Quero continuar tendo fé na humanidade e acreditar, sempre, que se existem mulheres que cresceram, existem homens que também estão preocupados em ter relacionamentos melhores. Na época do post, escrevi que tinha desistido de torear. Que agora, queria andar junto. Hoje, depois de mais vivência, mais relacionamentos, literatura e autoconhecimento, digo mais: quero andar junto de mim mesma, amar como mais um aspecto interessante de minha vida, mas não como se do amor romântico dependesse minha felicidade.

*Artigo publicado na coluna “Tendências e Idéias” do Jornal do Tocantins de 10 de março de 2012.

quinta-feira, 8 de março de 2012

A devolução do dia da mulher

artigo homen e mulher

Se eu pudesse ter um desejo realizado neste Dia da Mulher, eu gostaria de devolvê-lo aos homens. Para mim, pouco ou nenhuma diferença esta data traz hoje. Pode ter tido efeito no passado, como bandeira de luta, mas hoje é só mais uma data explorada pelo mercado, pelo consumo.

Mas não é por causa deste tipo de exploração que quero devolver aos homens o dia das mulheres. Quero devolvê-lo porque acredito que nós, mulheres, pelo menos as que tem mais acesso à informação, às que tem senso crítico e que são geralmente as formadoras de opinião, já temos plena consciência da nossa luta diária, da jornada dupla, da desigualdade e das nossas qualidades e nossas lutas e batalhas diárias.

Fazem parte do nosso dia-a-dia, mas não da forma rotineira e comoda que o papel do patriarcado faz parte da vida dos homens. Nossa luta ainda nos motiva, ainda nos agride ver injustiças por questões de gênero.
Mas acho mesmo que esta quebra do patriarcado já está dando mais o que falar e o que pensar aos homens, do que às mulheres. Nós já sabemos que podemos ser fortes, independentes, decididas. Adjetivos antes aplicados ao masculino. Sabemos que não nascemos submissas, que esta não é uma condição da “natureza” feminina.

Agora falta ao homem a consciência de que pode também ser suave, agradável, românticos, sem perder com isto sua masculinidade. Perceberem que violência e agressividade não são da “natureza” masculina. Muito menos quando esta violência e agressividade são voltados às mulheres, como forma de opressão.
Por isto quero devolver o dia das mulheres. Quero campanhas publicitárias para o dia das Mulheres devolvido aos homens com esta finalidade: da reflexão sobre o novo papel do masculino.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Olímpia e o amor*




Olímpia não pensava muito no próprio destino. Seguia a vida como se o dia de hoje fosse acabar amanhã e não tecia para si mais do que um ou dois planos para o que tinha que fazer no dia seguinte. Ir ao supermercado, pagar as contas, fazer o relatório do trabalho. Podia dizer que se sobrevivia na vida, era por sorte, não por planejamento. Mas podia se vangloriar de que vivia intensamente cada instante e agradecia a Deus ou deuses ou destino ou sorte ou o que quer que seja que trazia para ela pequenos prêmios.

O último destes presentes ela encontrou num café, entre um expediente e outro do trabalho, num almoço apressado. Ele ofereceu a única cadeira vazia do lugar. Ela aceitou e ali mesmo perdeu seu coração e começou a se preocupar com o tinha pela frente. Começou a contar os dias de trabalho, as horas de solidão e os minutos que faltavam para se encontrar com ele mais uma vez.

Voltava ao café todos os dias, sentava na mesma mesa e encontrava com os olhos o rapaz de cabelos desarrumados e óculos tortos. Sentavam juntos, falavam muito, comiam pouco. Somente durante os dias da semana. Em sua inocência, este tempo bastava.

Mas aos poucos, Olímpia encontrava motivos para planejar mais que o amanhã. Nela, cresceu um desejo maior que ela mesma, uma necessidade que vinha de outro lado que não só o de dentro. Olímpia queria agradar o outro, aconchegar o outro e guardar para sempre a sensação que tinha todos os dias naquele café. Queria levar para casa, queria ampliar para a vida, queria planos, queria filhos.

De repente, sua percepção mudou. Ela, que não conhecia raiva, passou a odiar os fins de semana sozinha, trancada no apartamento com o gato, sua coleção de livros e discos de vinil que ainda tocava na velha radiola herdada da avó. Ela, que não conhecia angústia, passou a ansiar pelo meio-dia, pelos minutos mágicos em que deixava de ser sozinha para ser dois e de dois ser mais que um mundo todo de sentimentos.  Ela, que de expectativa só conhecia a palavra, passou a esperar que o outro correspondesse e desejasse e amasse da mesma forma que ela. Ela, tão pouco sabia da inveja, queria ter para si só aquela pessoa.
Para Olímpia, como para muitos de nós, encontro com o amor não foi feliz.

*Crônica publicada no Jornal do Tocantins, no caderno Arte e Vida do dia 09/02/2012.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O prazer de dirigir




Até que enfim, aos 33 anos, tirei a bendita carteira de motorista. Agora estou devidamente habilitada, para o terror das ruas de Palmas. Brincadeira. Para quem dirige há apenas 4 meses, eu sou boa no volante. Se alguém quiser comprovar, ofereço carona, depois que a pessoa fizer seu seguro de vida.

Brincadeiras à parte, até que eu fui bem, se for levar em consideração as mulheres da minha família. Minha mãe tirou habilitação aos 34, minhas tias mais ou menos por aí também e minhas duas irmãs não sabem dirigir ainda.

Mas enfim, sem querer justificar, já me justificando, eu diria que superei um trauma. Uma vez contei para um colega de faculdade que eu não dirigia porque era traumatizada e depois contei a história. Ele morreu de rir, porque achou que eu tivesse sofrido um acidente grave, matado alguém, ou coisa parecida, mas não, não foi nada disto.

Pode parecer bobagem para muitos, mas trauma é trauma. Só sabe como é difícil passar por cima quem vive, por mais bobo que possa parecer.

Minha história é a seguinte: lá pelos meus 18 anos, idade comum em que a maioria das pessoas tira carteira, eu também estava na mesma onda. Fiz auto-escola e tudo mais, numa época em que não eram obrigatórias as aulas e você tinha só que ir ao Detran marcar a prova de volante. Na mesma época, passei no meu primeiro (de muitos) vestibular.

Como também é costume entre as famílias de classe média, meu pai resolveu me dar um carro. Claro, a gente já estava numa fase de classe média em decadência, então, ganhei um Fusca. Como dizem por aí, eu já quase posso morrer: tive um filho, plantei árvores, tive um Fusca. Só me falta escrever um livro, projeto que prometo cumprir.

Ganhei o Fusca antes de tirar a carteira. E andava no Fusca (que não segurava a segunda marcha, mas de resto estava bomzinho), muito mal. Mas ainda assim, cheguei a ir para a Serra comemorar o aniversário de uma amiga, nele. Quando a estrada de Palmas à Aparecida do Rio Negro ainda nem era asfaltada (sim, já contei minha idade, não tenho medo de denunciar a época em que os fatos aconteceram).

A garagem lá de casa era um "S" e sempre que eu ia sair no carro, pedia ao meu pai ou ao meu irmão para tirar o carro da garagem para mim. Um belo dia, nenhum dos dois queria fazer a gentileza e eu resolvi, por mim mesma, manobrar a máquina. Claro que deu merda. Claro que eu bati a lateral do Fusca, arranquei o para-choque e um pedaço do muro de casa.

Fez um barulho danado, saiu todo mundo de dentro de casa, meu pai e meu irmão com as mãos na cabeça, com expressões nada felizes. Discussão, xingamentos e coisas e tal que, se eu não fosse adolescente, provavelmente nunca teriam acontecido. Prometi para mim e para minha família que nunca mais pegaria um carro enquanto não pudesse comprar o meu.

E foi isto. Um trauma do orgulho ferido. E este orgulho durou um bocadão! E me custou a perda de 15 anos de um prazer enorme que eu descobri! Eu simplesmente A-D-O-R-O dirigir. Poucas coisas me dão tanto prazer quanto pegar a TO 050 (para fazer compras, ainda não me aventurei às rodovias para viajar) com o som ligado no máximo (que eu consigo ouvir, não nos decibéis astronômicos de quem gosta de som automotivo). E pegar as ruas vazias de domingo à tarde e dar aquela volta preguiçosa pela cidade? Nossa, como é bom.

Enfim, meu pai me disse uma vez que quando se aprende a dirigir muito tarde, a pessoa não toma gosto pelo volante. Ainda bem que ele se enganou. Como diz o meme que coloquei ali em cima, para mulher dirigir bem, há que ter testosterona. Pois acho que ganhei um tantinho disto, pois não só tomei gosto por dirigir, como por carros, oficina, posto de gasolina, tudo. Quero aprender tudo sobre este novo prazer da minha vida.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Mãe, filho e visão profissional




As crônicas mais lidas, comentadas e acessadas do meu blog são, quase sempre, as que falam das minhas conversas edificantes com o Ian, meu filho, com agora nove anos. Descobri também, ao reler vários textos, que pelo blog dá para traçar uma boa trajetória de vida da criança com quem divido meus dias, alegrias e tropeços. Escrevo historietas sobre ele desde que tinha 4 anos. Um dia, seleciono todas e entrego a ele como um pequeno livro de memórias, para ele se lembrar de si mesmo quando criança.

Mas enfim, não era disto que eu queria falar, não. O assunto é mais uma das tiradas do Ian que fez agora um quadro geral meu como mãe, amiga e profissional.

Todos os dias quando acordamos, ligamos a TV e eu fico ouvindo as notícias enquanto faço o café da manhã, arrumo o lanche e grito para o Ian tomar banho, vestir uniforme, conferir material na mochila, enfim, aquela rotina de 90% das mães.

Esta manhã, depois de uma matéria sobre desaparecimentos, uma nota sobre mãos decepadas e outra de assassinato, Ian desligou a televisão. Protestei logo:

- Ei, que falta de educação é esta?! Eu estava ouvindo as notícias!

- Mamãe, não aguento mais violência! Não tem nenhuma notícia falando sobre um parque novo na cidade, um museu que inauguraram, uma praça reformada em que colocaram balanços e brinquedos?

- Parece que não, né?

Confesso que também já estou saturada com este tipo de notícia. Vou confessar outra coisa: acho que prefiro saber da Luiza, que voltou do Canadá. Porque matérias policiais, a meu ver, em grande quantidade, incentivam ainda mais a violência. Ainda mais quando só se mostram os crimes e pouco de solução, dando aquela sensação grande de insegurança e impunidade. Foi daí que Ian me mostrou que ele entende perfeitamente a natureza da minha profissão:

- Pois então, não vamos mais assistir jornais. Vamos nós mesmos procurar só notícias boas. Afinal, você não é jornalista?