sábado, 31 de maio de 2008

Sobre transporte coletivo

Não contribuo para o aquecimento global, nem para o caos do transporte urbano. Ou seja, sou pobre. Uso o transporte coletivo. Ando de ônibus. Tirando o calor e o tempo que eu perco no ponto e entre um trajeto e outro, isto não me incomoda. Muito pelo contrário, eu até gosto. Se o transporte coletivo funcionasse como na Europa, e com o clima da Europa, eu seria feliz. Gosto de observar as figuras pitorescas e as discussões sobre a novela. Como não assisto muito à televisão, me vejo atualizada sem ter que ficar em frente à tela.

E acontecem coisas interessantes também. Já vi muitos bêbados de darem dó e outros muito engraçados, tropeçando até nos rebites do chão do ônibus, cantando músicas de corno e apagando no banco. Fico me perguntando quem tira os coitados dali quando o ônibus chega no ponto final, ou se os motoristas ficam carregando o bêbado até o estado de sobriedade que permite que eles desçam por si.

Ônibus também são locais de paquera. Não são lá de muita qualidade. Já fui cantada por um pastor protestante, que acho que na verdade queria era me converter. E também por um dos bêbados.

Mas me surpreendi mesmo numa sexta-feira à tarde, voltando da periferia de Palmas, onde dou aula duas vezes por semana. Fui abordada por uma conversa inteligente sobre diferenças sociais, estudo e filosofia. Era um estudante de história. Um cara de seus vinte e poucos anos, e com muitos sonhos. Descobri boa parte deles e da sua gentileza em uma viagem de quase uma hora dentro do mesmo ônibus. Trocamos telefones. Quem sabe?

sexta-feira, 30 de maio de 2008

O Comprimento do Cumprimento



- E aí, Rafa, tudo bem?

- Tudo bem, o caralho! Não dormi quase nada, acordei assustada, de mal humor, perdi o ônibus. Aí, chegando no trabalho, atrasada, um esbarrão na porta e o dia ficou vermelho de vez, quando descobri que estava menstruada e não tinha absorvente.

Só em sonho. O que eu respondo mesmo é um bem educado:

- Tudo jóia, obrigada! E você? (sempre uma pergunta de volta e um sorriso simpático)

E o outro, com vontade de contar vantagem sobre a noite bem dormida, com a nova namorada gostosa, também sorri (um sorriso mais aberto e sincero, talvez) e responde:

- Eu tô beleza!

Graças a Deus, ou melhor, à civilização, inventaram as convenções sociais.



Mais do mesmo por Daianne Fernandes
Mais do mesmo por Ferreira Neto



quinta-feira, 29 de maio de 2008

Interatividade

Interatividade vem de interação.

Do dicionário Michaelis:

in.te.ra.ção

sf (inter+ação) 1. Ação recíproca de dois ou mais corpos uns nos outros. 2. Atualização da influência recíproca de organismos inter-relacionados. 3. Ação recíproca entre o usuário e um equipamento (computador, televisor etc.). I. social, Sociol: ações e relações entre os membros de um grupo ou entre grupos de uma sociedade.


E é isto aí que eu, Daianne Fernandes e Ferreira Neto vamos fazer em nossos blogs, todas as sextas-feiras. A coluna “3 passando linhas” é pura interação. Vamos escrever com nossos estilos a nossa visão sobre o mesmo tema.



domingo, 25 de maio de 2008

Apelidos carinhosos



Chego aos trinta com pouca experiência em relacionamentos sérios. Só tive um namorado que teve este título. Os homens da minha vida sempre estiveram presentes como amigos coloridos. Levantei esta bandeira (e acho que ainda a carrego) por todo o colegial e pela faculdade. Acho que por isto, ganhei muito em alguns pontos e perdi em outros.

Ganhei porque desenvolvo rápido uma intimidade e uma cumplicidade com meus companheiros. E perco logo inibições e máscaras, jogando limpo na relação. Perdi porque não sei jogar o jogo feminino.
Claro que alguns destes jogos estão inclusos no DNA, não dá para fugir de um charminho ou um beicinho de vez enquando.

Mas não sei chamar ninguém de "meu amorzinho", "benzinho" ou "nenezinho". Os diminutivos estão fora da minha vida. Comecei a achar que era isto que interferia nos meus relacionamentos. Que eu não tratava o outro com carinho e dengo, mas sempre como um cara bacana. E parando para analisar, descobri que não é uma coisa minha, mas a cultura em que fui criada. Não me lembro da minha minha mãe ou meu pai se tratarem por apelidos ou diminutivos como "amorzinho". E não que não fossem carinhosos um com o outro. Só não existia o apelido.


Meus irmãos, que ao contrário de mim, assumiram relacionamentos sérios e duradouros, também não tratam suas namoradas e namorados com apelidos diminutivos. Descobri então que não é um "defeito" meu, mas uma cultura de família. Até mesmo meus avós, só vi algumas vezes minha avó chamar meu vô de "Tinho", diminutivo de Walter.


Aí, desencanei.


sábado, 24 de maio de 2008

"Casar ou comprar uma bicicleta?"


Homens, por favor, me socorram. As pesquisas e revistas e programas de televisão sempre batendo na tecla da diferença entre homens e mulheres, eu nunca sei se um sentimento é comum a toda a humanidade ou se nós, mulheres, somos mais neuróticas que vocês mesmo. Mas o assunto é o seguinte: Dúvidas. Tem dias que elas acordam com a gente ou nos acordam.

E nem sempre são profundas como um: Devo ligar para ele depois de toda a discussão de ontem? Devo pedir um aumento para o chefe agora que provei que sou capaz de assumir mais responsabilidade? Mudo a cor do meu cabelo? Não. A gente cai numas de perguntas (e paranóias) impossíveis com um quê de ansiedade em coisas simples, tipo: Devo sair da cama ou enrolar mais um pouco? Descongelo a carne ou saio para almoçar fora? Ligo para minha mãe ou vou assistir filme?


Homens também são assim? Eu tenho a impressão que não. Homem quer assistir ao futebol. Liga a televisão e assiste ao futebol. Homem quer comprar um sapato. Põe no pé, ficou confortável, leva.

E se for simples assim, por favor, me emprestem um pouco mais de poder de decisão. Se não for... façamos um grupo de auto-ajuda!


quarta-feira, 21 de maio de 2008

Sobre Gustav Klimt

(post relâmpago)

Sobre quem?! Tá, tá. Admito que não é todo mundo que conhece Klimt pelo nome e que fica meio arrogante escrever sobre ele. Mas acredito que mesmo sem conhecer o nome do artista austríaco, com certeza muita gente já deve ter visto reproduções do quadro "O Beijo" (este que está aí). Não é simplesmente perfeito?! Klimt é a única concessão que faço ao uso do dourado. Não gosto de nada dourado. Acho o dourado brega e exibicionista. Menos em Klimt. Só ele consegue equilibrar o dourado assim, de forma tão sutil que a gente até mesmo fica se perguntando se é dourado.



terça-feira, 20 de maio de 2008

Desfiles Cívicos


Estou eu escrevendo minha matéria especial para o aniversário de Palmas. Precisava da programação da prefeitura. Mandaram por e-mail. E aí, fiquei com uma dúvida que me rendeu o post desta terça-feira, 20 de maio, dia do aniversário da capital tocantinense.

Porque desfiles CÍVICOS têm sempre a presença maciça de MILITARES?

A minha dúvida surgiu quando peguei a programação e veio no cabeçalho: Desfile Cívico. E na lista de autoridades: Vice-governador, prefeito, chefe da marinha, chefe do exercito, chefe da casa militar....etc. Tirando o vice-governador e o prefeito, só tinham militares. Pensei: deve ser algum resquício da ditadura militar.

E pode até ser preconceito, mas na minha cabeça, cívico e militar são coisas bem diferentes e até mesmo antagônicas. Respeito muito a disciplina militar. Morre aí meu respeito pelos militares.

Na minha definição, cívico é relacionado a civil, pessoas comuns que compõe uma nação. Militares são os caras que defendem a pátria, a integridade do território nacional. Portanto, não vejo muito a necessidade deles num desfile cívico em comemoração ao aniversário de uma cidade. Ainda que fosse o aniversário da pátria, vá lá. Ou se os desfiles ainda se chamassem cívico-militares.


Uma amiga, quando comentei a dúvida me disse: Ora, deixa eles desfilarem. O que mais o exército brasileiro tem para fazer além de ficar lustrando as botas e treinando poses para serem usadas no dia de desfiles?

Realmente. Coitados. Deixa eles desfilarem.


segunda-feira, 19 de maio de 2008

Estresse da segunda-feira

Acordar de bom humor na segunda-feira nem é difícil. Basta ter um sonho hilário discutindo e roubando de dois travestis por um motivo mais hilário ainda. A gente acorda feliz, dando gargalhada da situação, até bater os olhos no relógio e descobrir que são 7h! Sim, eu acordo às 6h30. Mas me atraso de vez enquando, como todo ser humano normal. E sempre na segunda-feira ou em um dia com um trabalho importante para terminar. Agonia total. Passa a roupa, acorda menino, arruma o café... não, não arruma o café. Vamos tomar café na padaria à caminho do ponto de ônibus, que fica mais rápido.

Sim, mais rápido quando a criança em questão não enrola para escolher o que vai comer. E depois, para arrematar, já a quatro passos do ponto de ônibus, descobrimos que a mochila ficou na padaria, enquanto o ônibus passa vagarosamente na minha frente, como que por deboche. Correria total, xingamentos à condição de mãe solteira e desprovida de veículo automotor.

Até chegar no ponto e ver outra mãe gritar para o outro lado da rua: "Carol, volta pra casa já!". E do outro lado da rua uma menininha de cerca de três anos agarrada nas pernas da babá e chorando porque a mãe tá indo trabalhar.

O estresse de segunda-feira é real. Mas para as mães, é o inferno.





terça-feira, 13 de maio de 2008

A relação Mulheres x Salão de Beleza

Não existe mulher que mereça o título que, mesmo sem frequentar o espaço "salão de beleza" não tenha um mínimo de preocupação com a aparência. Existem mulheres que não gostam de frequentar o salão, mas em casa mesmo se depilam, maqueiam, cortam e pintam os cabelos. Mas eu, particularmente, adoro estar no salão. O momento salão é um encontro com o feminino nos aspectos mais peculiares.

No salão, todas as mulheres são amigas íntimas, os homens são pauta obrigatória e os cortes e cores de cabelo um momento de profunda reflexão e debate em grupo.

Em minha última visita, lá estava eu, no temido quartinho da depilação. Acostumada a todo o processo, não sem sentir dor, mas já no estágio em que é possivel conversar com a torturadora sem remorsos, eu contei algumas piadas para a gentil mulher que lambuzava minha virilha com cera quente. Quando saí, tinha uma moça dos seus 20 anos na porta, aguardando a vez. Me olhou com uma cara de real alívio e disse: "Nossa, estava com muito medo de depilar pela primeira vez, mas acho que não deve ser tão ruim, porque desde que estou esperando aqui na porta, só te ouço rir".

Não esperei para ouvir o resultado da primeira depilação dela.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Novela Mexicana



Não existe termo melhor para definir a minha vida. No último capítulo, fiquei desabrigada. Como? Por forças familiares. Ao invés de alugar uma casa, como todo ser humano normal que não mora com a família, nem possui bens faria, não. Para quê simplificar se podemos complicar a vida? Acabei indo morar na casa de uma amiga. Que conheceu pela internet o atual namorado que, claro, aproveitou o feriadão para visitá-la na casa em que ela mora sozinha (ou morava até a minha chegada - acompanhada do meu filho de cinco anos).

Lógico que com a chegada do namorado que mora a 3 mil quilômetros de distância, com sexo reduzido a visão da webcam, eu não ia permanecer na casa durante o feriado. Muito menos meu filho de 5 anos. Meu filho tinha destino fácil: casa da avó. Já eu, não podia ir pra casa de minha mãe por causa da minha irmã louca (e isto não é força de expressão) com ganas homicidas que me odeia. Fiquei desabrigada por quatro dias.

Mas graças, tenho amigos. Bons amigos. Que nos chamam de visita no primeiro dia. No segundo, somos de casa. No terceiro, se acordar cedo e não fizer o café, é um absurdo!