sábado, 27 de setembro de 2008

Desespero de causa

Rodrigo Faro e o auto-denominado "Veloz e Carinhoso" esperando para ser escolhido por alguém


Tenho muitas amigas bonitas, inteligentes, independentes e solteiras. Todas atrás do grande amor, ou só de um romance daqueles gostosinhos, para aquecer o coração e o corpo em noites chuvosas. Nenhuma delas foi parar na televisão para conseguir um namorado em rede nacional. Não sei se se canditariam. Gosto de pensar que não. Mas parece que o mercado está muito ruim mesmo, porque está pipocando de quadros de mulheres procurando namorados na TV. Silvio Santos lançou a moda a muito tempo atrás, com o "Namoro na TV". Mas as proporções aumentaram. Tem em tudo quanto é canal. Talvez também nos religiosos, com namoros aprovados por Deus, ou coisa assim. Não sei, porque não acompanho, mas não deve ser difícil.

Outro dia no trabalho, uma colega , vendo o quadro do programa "Mais Você", chamado "Agora Vai" (o que é ainda pior que 'Namoro na TV', porque soa ainda mais desesperado) disse algo como: Não sei como alguém se presta a um papel destes só para conseguir um namorado. Concordo com ela. Mas quando o quadro vai parar na Globo, as mulheres conseguem muito mais que namorado. Conseguem contratos, visibilidade, quem sabe um programa de televisão numa cidade do interior ou uma coluna de relacionamento numa revista. E a gente perde tempo fazendo quatro anos de jornalismo...

Agora ainda pior foi o quadro que vi neste sábado no programa "O Melhor do Brasil", da Rede Record, apresentado por Rodrigo Faro. O nome do quadro, por si só, já é vexatório: Duelo Fura Olho. Não acreditei na criatividade da produção e muito menos na coragem dos participantes. Funciona assim: dois caras vão disputar quem conhece mais uma determinada mulher, sendo que um é o atual e o outro é o ex-namorado.

Assisti. Boquiaberta. Perguntaram para os dois coisas que vão desde se a mulher gostaria de ter filhos até como é que ela depilava a virilha. E a moça, dentro de uma cabina a prova de som, depois tinha que responder as perguntas, dando pontos a quem respondeu certo. No final do quadro, o ex perdeu feio, ficou com cara de bunda, recebeu um aperto de mão do Rodrigo Faro e foi embora cabisbaixo. A moça e o atual namorado foram festejados, ganharam música tema e se beijaram apaixonadamente no palco sob o som de palmas da platéia. Vitória do amor atual. Derrota para a qualidade do que vemos na TV.


quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A chuva e São Pedro


Eu tinha jurado para mim mesma que não ia escrever sobre a chuva. Me recusava a cair no lugar comum de todas as pessoas de Palmas, vibrando com a chuva. Não que eu não esteja vibrando. Tenho em mim também o pensamento sertanejo de Graciliano Ramos, propagado no msn de um amigo: Perto de muita água tudo é feliz. Mas é assim, cai chuva no asfalto de Palmas e todo mundo escreve no blog, nas frasezinhas do msn e nos telejornais também chove, mas em reportagens sobre a chegada da temporada molhada, depois de quase quatro meses de seca.

Tudo bem. Nunca fui boa de acordos comigo, mesmo. Então resolvi escrever não só sobre a chuva, mas também sobre São Pedro.

A chuva este ano não atrasou muito, apesar do calorão destes dias ter nos dado esta impressão. Escrevi sobre a primeira chuva depois da estiagem no dia 20 de setembro de 2007. Descobri que meu blog já serve, senão para os outros, pelo menos para mim mesma, como registro histórico. Segundo a sabedoria cabocla do meu pai, estes cinco dias de diferença não são atraso. É que a chuva obedece ao calendário lunar, e cai sempre dois dias depois de uma mudança de fase. Não é que entramos em quarto crescente no dia 22??? Quase fiquei impressionada.

E este é meu comentário sobre a chuva. Sobre São Pedro, é uma reclamação. Não pelo atraso da chuva ou pelo calor inclemente. Mas pelo horário e a birra pessoal que São Pedro tem com os trabalhadores. Que horas choveu nesta quarta-feira, 24? Por volta das seis da tarde, pegando desprevinidos alguns que ainda estavam voltando do trabalho para casa. Repeteco de chuva na quinta-feira, em pleno meio dia, na hora de sair do trabalho. E assim que ponho meus pezinhos para fora de casa às duas horas para voltar ao trabalho, o que encontro? Chuva!

Liguei para um amigo advogado:

- Posso processar São Pedro por danos morais e patrimoniais?
- Pode, difícil vai ser a gente conseguir chamar ele para depor...

Ai, ai. Como ligo para os representantes dos santos no Vaticano?


quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Plágio, imitação ou só troca de idéias?


A gente que é blogueiro e que já se apaixonou por escrever o que vem na telha vive atrás de temas novos. Vira e mexe, fatos comuns do dia-a-dia acabam virando um post. Outra prática comum é bisbilhotarmos constantemente outros blogs de temas que gostamos para buscar inspiração.

Aí, fiquei na dúvida se isto seria plágio, imitação ou só troca de idéias. Gosto de pensar em trocas de idéias, porque mesmo que colemos o texto de outra pessoa nos nossos blogs, estamos levando pensamentos diferentes para os nosso leitores.

Hoje, neste post, vou cometer dois "plágios, imitações ou trocas de idéias". Eu prefiro mesmo produzir meus próprios textos. Mas desde que comecei a escrever no blog, uma amiga disse que meu estilo lembra muito o da Martha Medeiros. Eu não conhecia os textos da jornalista gaúcha e na minha pesquisa para descobrir quem ela é, acabei me apaixonando. Este é um dos plágios. Vou colocar aqui um texto dela. O outro plágio é sobre como vou colocar. No Blog Ainda Sem Nome, do Ferreira Neto, tem uma categoria "Não é meu, mas é bom". perguntei se poderia imitar. Dada a autotização, cá estou eu criando a minha categoria "Plágios, imitações ou trocas de idéias", com um texto da Martha Medeiros que acho quase visceral.

Strip-Tease

Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender.

Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares. Quero que você me escute, simplesmente.

Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes.


Primeiro tirou a máscara: "Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto".

Então ela desfez-se da arrogância: "Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história."

Era o pudor sendo desabotoado: "Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou".

Retirava o medo: "Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei".

Por fim, a última peça caía, deixando-a nua. "Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui".

E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.



sábado, 20 de setembro de 2008

Vidrinho de perfume



Minha mãe tinha um vidrinho de perfume minísculo, tão pequeno que, por várias vezes, quando criança, eu colocava ele lá, junto com a louça da casinha de bonecas. E sempre apanhava por causa disto depois. Nunca entendi direito porque o perfuminho era tão zelado, se ela nunca usava e parecia que a tampa era lacrada, porque eu nunca consegui abrir e sentir qual era o cheiro do danado. Só sabia que era perfume porque toda vez que minha mãe dava falta dele, ela gritava: "Maria, cadê o vidrinho de perfume?" Incrível também era ela sempre acertar que o vidrinho estava comingo, nunca com minha irmã.

Um dia, escondida de baixo do pé de tamarindo, que ficava bem no fundo do quintal, no canto do muro e formava uma espécie de caverna, eu consegui abrir a tampa do vidrinho. Lá de dentro não só saiu um dos perfumes mais fabulosos que já senti, como também uma fumaça rosa, densa, que aos poucos foi tomando formato de gente. Uma mulher linda, com olhos cor de mel e cabelos negros amarrados num rabo de cavalo apareceu como que vinda da fumaça, mas bem de verdade, nada parecida com sonho ou os delírios da infância. Ela estava de calça jeans e camiseta branca e tênis, como se estivesse pronta para correr. Tudo o que consegui fazer foi ficar olhando para ela, com a boca aberta e olhos arregalados, enquanto ela sorria, se virava e saía de baixo do pé de tamarindo.

E esta é a última coisa que me lembro antes de sentr a mão de minha mãe me batendo no rosto, enquanto e dizia nervosa: "Maria, Maria? Você está bem?"

Nunca mais vi a mulher. Nunca mais senti o cheiro do perfume. O vidrinho misteriosamente desapareceu e minha mãe pareceu ter ficado feliz com isto.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O caso do prendedor de cabelo encontrado


De uns tempos para cá, tenho pego carona com meu pai para ir almoçar. Alguns dias atrás, no caminho, encontrei um prendedor de cabelo, destes tipo piranha. Não é o estilo que eu uso, geralmente neutro, mas era bonitinho. Alaranjado com verde e com a palavra "love" inscrita. Bem infantil. Depois de me pegar, meu pai passa na escola do meu filho. Mais uma carona. Aí, o Ian viu o prendedor de cabelo diferente que eu tinha prendido na alça da minha bolsa.

- Mamãe, de quem é este prendedor?
- Não sei, Ian. Achei na rua.
- E você não devolveu para quem perdeu?
- Era um lugar de muito movimento, muita gente passando. Não tinha como achar o dono.
- Porque você não perguntou pras pessoas?
- Porque era muita gente e eu tinha que vir te buscar na escola, não é?
- Posso levar o prendedor para a minha escola e ver se alguém lá perdeu?

Apesar de a minha paciência estar quase no fim, fiquei admirada por meus ensinamentos de "devolva o que não é seu" terem sido muito bem compreendidos.

- Ian, o lugar onde achei o prendedor é muito longe da sua escola. Acho difícil que você encontre o dono lá.

Ele sossegou com o argumento e ficou calado todo o resto do caminho. Chegamos em casa, arrumei o almoço, coloquei um Ian ainda calado e pensativo para tomar banho. Na hora de colocar a roupa para seguir para o centro de atividades infantis, ele vira com esta:

- E se a gente fizer um cartaz com a foto do prendedor e espalhar pela cidade?

Olha, só não cedi ao pedido, porque não tenho impressora em casa. Mas cheguei a me visualizar no trabalho, tirando xerox de um cartaz com a foto do prendedor tirada no celular e escrito assim: Procura-se dona de prendedor de cabelo, laranja e verde, de nome "love". Favor entrar em contato pelo telefone....



segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Abaixo a nudez (de novo)

Tá, eu sei que já escrevi sobre o tema antes, mas de novo, meu censor agiu de forma a cortar o meu barato e, como todo censor, restringir a minha liberdade. Depois de toda a conversa que tive com meu filho, o senhor censor, e inclusive relatada no post "Crianças também teorizam regras", consegui (ou pensei que assim fosse) convercer a criança de que nada havia de mal em andar nu pela casa, estando aqui só eu e ele. Até que veio a hora de dormir desta segunda-feira de feriado da padroeira do Tocantins. Quem mora em Palmas, sabe. Aqui está um calor não vencido nem pelo ar condicionado. Eu, que não tenho o aparelho em casa, sofro ainda mais. E me deparo com o seguinte diálogo:

- Ian, tá na hora de dormir.
- Você não vem dormir?
- Vou terminar de escrever aqui e já vou deitar.
- E você vai dormir pelada?!

Paro. Respiro. Conto até 10. Melhor, 15. Respiro de novo.

- Ian, a gente já teve esta conversa. Você dorme de cueca, porque eu não posso dormir de calcinha, num calorão destes?!

- Ah, não! Não vou dormir com nenhuma mulher pelada, não!!! (queria MESMO gravar esta frase e mostrar para ele daqui uns anos)

Silêncio.

Fui ao banheiro tomar a milésima ducha fria do dia. Quando volto, está o Ian deitado na cama completamente vestido.

- E agora? Você põe roupa para dormir?

Putz.

Quero um quarto só pra mim ou uma bolsa para um internato na Suíça.



Figura: ainda de Fernando Botero.