sexta-feira, 4 de julho de 2008

Essa Metamorfose Ambulante


Desde que eu tenho consciência da minha vida, eu me mudo. Meu pai é engenheiro civil e por muito tempo trabalhou em empresas que tinham obras espalhadas pelo país. Ele bem que tentou não mudar para muito longe e ficamos sempre entre Minas Gerais (terra natal de minha mãe) e Goiás (terra natal de meu pai, na parte que hoje é Tocantins). Uma vez por ano, no mínimo, estava eu e meus irmãos à escolher os brinquedos que iam ficar, os que não serviam mais e teriam que ser dispensados para a gente mudar, senão para outra cidade, pelo menos para outro bairro.

Eu tenho superado meu próprio recorde em mudanças, trocando de casas três vezes nos últimos seis meses e ainda não acabou. Mas contar isto neste post não ia caber. Tem toda uma explicação complexa, envolvendo desde separação dos pais até falta absoluta de grana.

Mas em mudanças, a gente sempre esquece alguma coisa, deixa pra trás. O botijão de gás, o chuveiro elétrico, a tampa do vaso daquelas fofinhas, que o próximo morador provavelmente vai usufruir.

Na minha família, em termos de recordes de mudanças e percas, o recorde é da minha avó materna. Minha avó tem sangue cigano em algum lugar. Se ela não se muda de casa pelo menos uma vez por ano, ela muda então, os móveis de lugar, troca de quarto, muda a sala de jantar pra a sala de estar e coisas assim. Em uma das famosas mudanças de minha avó, em que ela voltava de Pará de Minas para Belo Horizonte pela segunda vez, o caminhão de mudança ia na frente e o carro da família atrás, acompanhando. Numa curva, a porta de trás do caminhão se abre e uma caixa grande cai pela estrada que contorna uma montanha e sai rolando ribanceira abaixo.

Pára caminhão, pára carro, minha avó, 70 anos, sai do carro, desesperada, diz que vai descer a ribanceira para buscar as coisas dela que iam se espalhando entre pedras, grama e terra até o vale lá embaixo. Desce avô, tios e netos, seguram a velhinha, tentam acalmar, colocam de volta no carro, convencem a seguir viagem. “Provavelmente é uma caixa das que só tem coisas de cozinha, mãe. Foram as últimas que colocamos no caminhão”, tenta consolar minha tia. “Não, aquela é das caixas que tinham de tudo, ai meu Deus!!!”, responde minha chorosa vovó.

E isto era uma frase profética, porque desde então, passados 4 ou cinco anos desta história ainda podemos perguntar: “Vó, cadê aquele álbum de fotografias que tinha eu e todos os primos na chácara no ano que deu aquele monte de manga?” A resposta estava na ponta da língua, ela nem se atrevia a ir procurar. “Ah, minha filha, esta foi uma das coisas que foram na caixa”....

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