Estava eu, nos meus afazeres domésticos, lavando louça e ouvindo música, enquanto o Ian fazia os devertes escolares. Sempre que estou na lida doméstica, estou ouvindo música. E eu gosto de música nacional nestas horas, gosto de cantar, acompanhar as letras. Não sabia eu que o Ian também fazia a mesma coisa. E pior, entendendo as letras ao ponto de filosofar em cima. Detesto quando subestimo as crianças.
No som tocava “A História de Lilly Braun”, da Maria Gadú (sim, meu povo, Maria Gadú não sai da minha playlist), quando o Ian chega pra mim e pergunta:
- Mamãe, os homens dão vários presentes para as mulheres para ganhar a confiança delas?
De onde ele tira estas coisas?! Tive que perguntar:
- De onde você tirou esta idéia?
- Da música, ué. O homem da música sempre chega com um presente, uma rosa, um poema e depois, engana ela. Acho que eu não vou dar presentes demais para a mulher (percebam aqui, a palavra está no singular) que eu gostar, não. Senão, ela vai achar que eu sou um enganador. Vou dar presentes só nas datas certinhas, como dia das namoradas, dia das mulheres…
E sai da cozinha, me deixando ali, sem palavras.
E me fez lembrar um filme que assisti novamente estes dias que chama “Alta Fidelidade”, com o John Cusack, em que as primeiras falas do personagem dele são:
“As pessoas receiam que as crianças brinquem com armas ou vejam filmes violentos, que venham a ser dominadas por uma cultura de violência. Ninguém se importa que as crianças ouçam, literalmente, milhares de canções sobre desilusões amorosas, rejeição, dor, sofrimento e perda. Eu ouvia música pop
porque me sentia infeliz? Ou me sentia infeliz porque ouvia música pop?”
Mudo ou não mudo a minha playlist agora?