Não fumo. Nunca entendi como a humanidade chegou ao fumo. Comer plantas e animais estranhos é compreenssível. Comer faz parte da sobrevivência, é basal. Agora, qual foi o motivo que levou uma pessoa na antiguidade a enrrolar umas ervas, colocar fogo, levar à boca e tragar? Ah, os mistérios da humanidade... Para não dizer que nunca fumei, uma vez comprei um cachimbo e fumei camomila e um fumo aromatizado de menta, mais para fazer estilo do que por gostar. Também numa festa, peguei o cigarro de um amigo para tentar entender que graça ele via naquilo. E na faculdade costumava lamber os filtros dos cigarros de Bali alheios, que tem gostinho de bala de menta.
As duas vezes que traguei tabaco, fiquei tonta e nauseada. Não entendi de jeito nenhum de onde as pessoas tiram o prazer de fumar. Então, tirando estas experiências, mantenho minha boca longe dos cigarros. Já meus pulmões, coitados, foram açoitados quase que diariamente por todo o período em que morei com meus pais, que fumavam juntos 4 carteiras de cigarro por dia. Um dia, se eu morrer de câncer de pulmão, será por causa deles.
Mas esta exposição me tornou tolerante com os fumantes. Poucas vezes a fumaça do cigarro realmente me incomodou, não tenho nada contra alguém fumar numa mesa de bar em que eu esteja. Não sou tão tolerante ao ponto de deixar que fume na minha sala, mas não me importo que alguém (quase sempre meu pai, quando me visita) fique fumando na varanda enquanto bate um papo.
Mas a cultura de fumar tem alguns comportamentos que eu invejo. O tal "vamos fumar lá fora", por exemplo. Invejo os fumantes no trabalho que, no meio de qualquer crise, não importa qual, viram um para o outro e dizem: vamos fumar lá fora? E neste momento resolvem problemas do mundo, confidenciam segredos e boatos, discutem a relação e tomam café. Não que eu goste de café, mas me parece elegante depois de "vamos fumar lá fora", o próximo passo: "me acompanha num café?". Fica mais elegante ainda se as pessoas não estão no trabalho, mas próximos a uma cafeteria ou a uma máquina de café expresso.
E falando em elegância, nunca achei bonito mulher fumando cigarros pelo canto da boca, fica extremamente grosseiro. Mas já naquelas piteiras longas, hollywoodianas, acho a perfeição! Ainda agressivo, mas elegante, glamouroso. Acho que algumas pessoas foram talhadas para fumar. Das poucas vezes que me arrisquei a namorar um fumante, o gosto de cinzeiro que eles tinham na boca era compensado pela elegância que eu via neles ao fumar, na leveza com que levavam o cigarro na mão, como um extensão dos dedos. Ficava hipnotizada, minutos perdidos no espaço enquanto eu só observava as mãos e a fumaça bailando no ar, preguiçosa.
E o que dizer do isqueiro, este catalizador social? Basta uma pessoa dizer:
Tem fogo? Que um estranho próximo, de posse do instrumento mágico, passa a ser amigo, confidente e se fumar também e ainda compartilhar um trago, está automaticamente convidado para o churrasco de domingo.
5 comentários:
Sempre na contramão!!! Suas releitura das coisas mais banais são fantásticas!!! Ótimo o texto.
Edlusa Vasconcelos
Você tem razão quanto à imitidade que se crie entre colegas de trabalham que fumam. Muitas vezes, fiz amizade e troquei informações profissionais com colegas de departamentos completamente diferentes e fiquei sabendo de muitas fofocas (algumas que se mostraram úteis mais tarde) graças ao "vamos lá fora fumar".
Fantastic! Tinha uma amiga que falava: "O cigarro é um instrumento de interação social!" E você mostrou com esse texto maravilhoso que é verdade... rs.. e que essa nova lei vai acabar com isso. Espero que as boates e bares, criem os fumódromos bem rapidinho...
É o seu texto conseguiu mostrar pelo menos um lado digamos "atraente" do ato de fumar. Creio, embora não seja fumante, que isso dificulta muito se livrar do vício. Mas desejo sin-ce-ra-men-te um mundo sem cigarro.
A elegância "no fumar" são para poucos, bem poucos. E mesmo assim, a fase da elegância acaba rápido. As consequências, na maioria das vezes, são devastadoras! Melhor mesmo é não arriscar no chic. A Saúde vale muito mais.
Adorei seu texto!
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